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O que pode acontecer se o estrabismo não for tratado?

Escrito por Júlia Rossetto
Índice

As consequências de não tratarmos um olho vesgo vão depender da idade em que o desvio apareceu e da maneira como ele se apresenta, veja mais abaixo.

O que é estrabismo?

O estrabismo é o desalinhamento entre os olhos, popularmente conhecido como vesgo. Nesta condição, cada olho aponta para posições diferentes. O desvio pode acontecer com o olho se aproximando do nariz (convergente), ou se afastando dele (divergente) ou ainda com o desvio do olho para cima (hipertropia) ou para baixo (hipotropia).

Para entender as consequências do estrabismo na criança, é importante saber como é o desenvolvimento da visão.

O desenvolvimento da visão começa dentro do útero e, à medida que a criança cresce, a visão se aprimora a depender de experiências visuais e do amadurecimento neurológico. 

Os principais avanços no desenvolvimento da visão ocorrem nos primeiros anos de vida. Nessa fase, a criança começa a ter noção de profundidade, maior noção de espaço e ver cada vez com maior nitidez.

Para enxergar bem, é imprescindível que os olhos estejam orientados para o mesmo ponto de fixação (alinhados). O cérebro, então, combina as imagens vistas pelos dois olhos e as interpretam como uma só. 

Como enxerga uma criança vesga?

Quando a criança pequena apresenta estrabismo, cada olho percebe uma imagem distinta. Para evitar esta disparidade, o cérebro ignora a imagem de um dos olhos. A criança, portanto, enxerga com menor senso de profundidade (sem visão 3D). 

Se a criança apresentar o desvio depois que boa parte do desenvolvimento visual estiver completo, ela terá os mesmos sintomas dos adultos, veja abaixo.

O que acontece se o estrabismo não for tratado na infância?

A porção visual do cérebro da criança está em desenvolvimento e elimina a imagem de um dos olhos quando elas são díspares. Assim, a visão de um olho desviado não se desenvolve normalmente. É a chamada ambliopia, popularmente conhecida como olho preguiçoso. Esta perda visual se torna irreversível se não for tratada logo.

Outra consequência é a perda da visão de profundidade (visão 3D), que exige a combinação das imagens de ambos os olhos para acontecer. Isso pode fazer com que a criança tenha dificuldade em executar certas tarefas, como colocar água em um copo, ou que tropece ou esbarre mais nas coisas.

Um ponto importante que não pode ser ignorado é o estrabismo como fonte de bullying. Isto gera um stress psicológico para a criança, que a leva à timidez, isolamento e, nos casos extremos, à depressão. Hábitos comuns destas crianças, aos quais devemos estar atentos, são não querer conversar ou não olhar no rosto ao conversar, não querer tirar fotos, principalmente selfies, e se afastar de encontros sociais.

Depoimento de um adolescente após a cirurgia de correção do estrabismo que ele apresentava desde os 5 anos de idade: 

“Antes eu não tirava fotos, não participava de redes sociais e evitava chamadas com meus amigos. Tudo isso na pandemia. Fiquei triste e sem vontade de fazer nada. Depois da cirurgia, tive vontade de cortar meu cabelo, pintei ele de vermelho e me sinto com muito mais vontade de fazer as coisas. Criei um perfil pra mim e falo e jogo com meus amigos e sinto como se não me sentia há muito tempo”.

Como posso saber se meu filho (a) é vesgo?

Além do desalinhamento ocular presente nas crianças estrábicas, elas podem apresentar uma posição diferente da cabeça quando querem focar em um objeto. Esta posição varia para cada tipo de estrabismo e pode ser inclinando a cabeça sobre um dos ombros, virando a cabeça para um dos lados ou ainda levantando ou abaixando o queixo. A criança pode também ter o hábito de fechar um dos olhos ao focar nos objetos.

Para saber como é o tratamento do estrabismo na infância acesse nosso post sobre estrabismo infantil.

O que acontece se o estrabismo não for tratado no adulto?

A primeira questão nos adultos é identificar a causa do estrabismo, já que algumas delas são emergências médicas, e tratá-las quando possível!

Principais causas de estrabismo no adulto:

  • Estrabismo antigo: desvio presente desde a infância sem nunca ter sido tratado; ou tratado, mas que ainda apresenta desvio; ou que era imperceptível durante a infância e fica aparente na idade adulta.

    Isso acontece quando a pessoa não consegue sustentar os olhos na mesma posição com a mesma eficiência de quando era jovem e o desvio passa a ficar evidente. Chamamos isso de desvio descompensado. 

    Muitas vezes, existem sinais da existência do desvio desde a infância, que nunca haviam sido notados pela pessoa, como manter a cabeça inclinada sobre um dos ombros.


  • Paralisia dos nervos cranianos: O desvio pode acontecer por fraqueza dos nervos que comandam o movimento ocular. Chamamos isto de paresia ou paralisia dos nervos cranianos. 

    Geralmente são desvios que aparecem de repente e são associados à dificuldade de mover o olho para alguma direção.
    É necessário atenção caso haja outros sinais como queda da pálpebra (ptose), pois trata-se de uma urgência que exige avaliação rápida com exame radiológico (ressonância magnética) para afastar um aneurisma, por exemplo.

  • Associado a outras doenças: como problemas da tireóide ou problemas neuromusculares (como Miastenia Gravis).

  • Associado à baixa visual: um olho que não enxerga bem, pode apresentar um desvio progressivo (estrabismo sensorial), mais comumente com o olho desviado para fora (desvio divergente).

Quais os sintomas vou sentir se meu olho ficar vesgo?

Um adulto que apresenta um desvio ocular, normalmente passa a ver duas imagens dos objetos, chamamos isso de diplopia, e perder a visão de profundidade (visão 3D).

Para compensar estes desconfortos, muitas vezes as pessoas inclinam ou viram a cabeça para uma posição na qual os sintomas desapareçam ou sejam menores, chamamos isso de posição viciosa de cabeça. É comum que pessoas nestas situações apresentem dor de cabeça e cansaço visual ao final do dia.

Como ser vesgo impacta na vida de uma pessoa, criança ou adulto?

“Ser vesgo acabou com a minha vida” e “Minha vida começou depois da cirurgia de estrabismo” não são frases raras de se ouvir. 

Alguns tópicos que afetam negativamente a qualidade de vida em adultos estrábicos: Aparência para outras pessoas “As pessoas percebem meus olhos”, problemas com contato visual e relacionamentos com outras pessoas.

Seguem abaixo alguns números de estudos que comprovam o enorme impacto do estrabismo na qualidade de vida das pessoas.

  • Sentimentos de tristeza e inferioridade estão presentes em até 74% dos pacientes com estrabismo.
  • A Fobia social foi diagnosticada em 53% dos pacientes com estrabismo, que apresentavam também mais depressão dos que os demais. Pacientes com estrabismo demonstraram dificuldades na vida social, familiar e no trabalho.
  • 72,5% dos headhunters julgaram que os vesgos teriam mais dificuldade em encontrar trabalho do que pessoas sem estrabismo. Essas dificuldades foram consideradas mais fortes em mulheres e em pessoas com desvio divergente. 
  • Headhunters perguntados sobre alterações faciais, classificaram o desvio divergente como o terceiro e o desvio convergente o quarto com impacto mais negativo em encontrar emprego, depois de acne forte e ausência de um dente visível. 
  • Os headhunters julgaram que as pessoas com estrabismo são  percebidas como menos atraentes e menos inteligentes pelos empregadores em potencial.

Portanto, o estrabismo visível influencia negativamente a capacidade dos indivíduos de encontrar um emprego e, portanto, tem impacto sobre sua situação econômica. A cirurgia de estrabismo bem-sucedida realinha os eixos visuais, produzindo uma aparência facial normal e, portanto, eliminando o impacto negativo do estrabismo na empregabilidade.

Fontes:

Ribeiro GB. Qualidade de vida em pacientes estrábicos. Arq. Bras. Oftalmol. 2014.

Bez Y. Adult strabismus and social phobia: A case-controlled study. JPOS. 2009

Mojon-Azzi SM. Strabismus and employment: the opinion of headhunters. Acta Ophthalmol. 2009.

McBain HB. Does strabismus surgery improve quality and mood, and what factors influence this? Eye (Nature) 2016 

Hatt SR. The effects of strabismus on quality of life in adults. AJO 2007.

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