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Visão-dupla (Diplopia): O Guia Completo (2023)

Escrito por Júlia Rossetto
Índice

Sinais de Alerta!!! Quando se preocupar?

Você já passou por uma situação de ver duplicado? Já viu duas imagens do mesmo objeto? 

Isso pode acontecer em algumas situações na ausência de problemas nos olhos, mas pode também ser um sinal de doença neurológica grave! Leia esse post até o final e saiba tudo o que você precisa sobre visão dupla!

O que é diplopia ocular?

A diplopia, também conhecida por visão dupla, acontece quando uma pessoa enxerga um mesmo objeto duas vezes, ou seja, uma imagem duplicada de um mesmo objeto.

Quais são os tipos de diplopia?

A diplopia pode ser classificada de acordo com o olho acometido. Neste caso, ela pode ser monocular, quando a diplopia está presente mesmo quando apenas o olho afetado está aberto. Ou ela pode ser binocular, quando a visão dupla está presente com os dois olhos abertos, mas desaparece ao se fechar qualquer um dos olhos.

A diplopia pode ser classificada de acordo com a posição da segunda imagem. Se as imagens aparecem uma ao lado da outra, trata-se de uma diplopia horizontal. Já se elas ficam uma acima da outra, trata-se de uma diplopia vertical. Além disso, a imagem pode estar inclinada, quando há também um componente torcional da diplopia.

Foto 01 - Diplopia horizontal
Foto 01 - Diplopia vertifcal

 

Há ainda a diplopia fisiológica que ocorre com os objetos que não estão no nosso foco principal. Faça este experimento:

Quando ocorre a diplopia? Quais as causas da diplopia (visão dupla)?

Nas diplopias monoculares, a visão dupla é constante e consequente de alterações no olho afetado. Estas alterações incluem: astigmatismo, anormalidades na parte da frente do olho (ceratocone, catarata, lente intraocular mal posicionada, irregularidades no filme lacrimal ou na córnea, após cirurgia de catarata ou cirurgia de grau/cirurgia de miopia, etc).

Nas diplopias binoculares, a visão dupla acontece sempre que os olhos estão desviados e, portanto, percebem imagens em posições diferentes. Crianças com estrabismo desde cedo, geralmente não apresentam diplopia, já as crianças mais velhas e adultos que passam a ter desvio nos olhos, têm visão dupla. O desalinhamento nos olhos pode acontecer por diversas causas, veja tudo sobre estrabismo na criança e no adulto.

O estrabismo muitas vezes acontece por um desequilíbrio nos músculos extraoculares, sem causa definida. Porém, outros casos podem acontecer por alterações nos músculos oculares, como nas doenças de tireóide (Doença de Graves) ou alterações nos nervos que comandam os músculos, podendo afetar o movimento dos músculos retos e/ou dos oblíquos.

Paciente com paresia do abducente direito olhando para direita; vê-se que o olho direito não se move adequadamente devido à paresia.

Algumas causas que podem afetar os nervos cranianos e causar diplopia, incluem:

  • Diabetes
  • Hipertensão arterial
  • Acidente vascular cerebral (AVC)
  • Lesões cerebrais (trauma, tumor, aneurisma)
  • Doenças neurológicas (Miastenia Gravis, esclerose múltipla, Parkinson, Síndrome Guillain-Barré)

Quais são os fatores de risco para diplopia?

Os principais fatores de risco para diplopia monocular são alterações na parte anterior do olho (ceratocone, catarata, irregularidades no filme lacrimal ou na córnea) ou pacientes que fizeram cirurgia de catarata ou cirurgia refrativa/cirurgia de miopia. Veja aqui como evitar diplopia após a cirurgia refrativa.

Já os fatores de risco para diplopia binocular incluem pacientes com estrabismo, pacientes diabéticos, ou com doenças da tireoide, ou doenças neurológicas ou neurodegenerativas (esclerose múltipla, Miastenia); trauma de crânio ou órbitas, entre outros.

Como uma pessoa com diplopia vê? Quais os sintomas da visão dupla?

O paciente com diplopia percebe imagens duplicadas, ou imagens com uma sombra ao redor, podem ter a sensação de visão turva, mas não é comum haver baixa visão associada. A depender da causa da visão dupla, pode haver outros sintomas como: dor de cabeça, dor ao movimentar os olhos, desalinhamento dos olhos, náusea/vômitos, pálpebras caídas (olho mais fechado), cansaço muscular/fadiga, olhos arregalados.

Quanto tempo dura a diplopia?

A duração da diplopia depende do seu tipo e da sua causa. A diplopia fisiológica pode ser percebida sempre, a diplopia monocular pode ser intermitente ou constante e a diplopia binocular aparece sempre que os olhos estão desviados (estrábicos). Sempre que tiver uma diplopia prolongada ou recorrente é recomendada a avaliação com um oftalmologista, sem demora.

Como as outras pessoas me veem quando estou com diplopia?

Durante a diplopia binocular, as outras pessoas podem notar o desvio dos olhos, também chamado de estrabismo ou vesgo.

Saiba como corrigir o estrabismo no adulto:

Quem avalia a diplopia? Qual profissional devo procurar?

O profissional que avalia a diplopia é o oftalmologista, com especialização em estrabismo. Uma avaliação com outros profissionais, como neurologista ou endocrinologista, ou até mesmo o encaminhamento para um serviço de emergência, podem ser recomendados.

Como confirmar o diagnóstico?

A confirmação do diagnóstico acontecerá através de uma consulta completa, com atenção para a história da visão dupla e exame oftalmológico completo, de preferência com especialista em estrabismo. Após a avaliação inicial, podem ser solicitados exames de sangue, exame neurológico ou até mesmo exames de imagens, a depender dos achados encontrados no exame ocular.

Na história, é importante avaliar se a diplopia é mono ou binocular, vertical ou horizontal, constante ou intermitente e os sintomas associados. Palpitação, sensibilidade ao calor e perda de peso, podem estar associadas à doença de Graves, por exemplo. Também devem ser pesquisadas doenças como hipertensão e diabetes.

Qual o exame para diplopia?

O exame oftalmológico para diplopia deve incluir: a medida da acuidade visual, avaliação da musculatura ocular e das pupilas, medidas do desvio ocular, quando presente, e da parte anterior do olho (biomicroscopia). Além da dilatação da pupila e exame de fundo de olho e refração (grau).

O que fazer quando se tem diplopia?

Como fazer o tratamento?

O tratamento mais lógico é eliminar a diplopia, se isso for possível. Isso pode ser feito com o uso de prismas, aplicação de toxina botulínica ou cirurgia de estrabismo. No entanto, é fundamental definir a causa da diplopia antes disso.

Durante a investigação, pode-se eliminar a diplopia para o conforto do paciente. Isso pode ser feito tampando um dos olhos, seja com um tapa-olho ou borrando uma das lentes dos óculos com fita opaca, ou ainda, usando prismas colados nas lentes dos óculos (prismas de Fresnel).

Uma vez definida a causa da diplopia, deve-se tratar a doença causadora, quando houver uma. Depois de toda investigação e tratamentos pertinentes, a diplopia pode ser tratada. Os tratamentos incluem:

  • Prismas: Nas diplopias menores pode-se usar os prismas nas lentes dos óculos. Eles são muito úteis no caso de diplopia horizontal ou vertical, mas praticamente não têm efeito sobre o componente torcional.
  • Toxina Botulínica: A aplicação de toxina botulínica no músculo ocular, já é bem estabelecida como tratamento para o estrabismo. Geralmente, ela é aplicada no antagonista do músculo paralisado e seu efeito pode durar de 3 a 6 meses.
  • Cirurgia dos músculos oculares (cirurgia de estrabismo): O tratamento cirúrgico do estrabismo está bem estabelecido. Geralmente, é indicado quando a recuperação completa não é alcançada após 6 meses do início dos sintomas.

Tem cirurgia para diplopia?

Sim. A diplopia binocular pode ser corrigida com cirurgia de estrabismo. A cirurgia é realizada reposicionando os músculos oculares para reequilibrar suas forças e alinhar os olhos.

Nos casos de paresias ou paralisias dos músculos extraoculares, a cirurgia geralmente é indicada quando a diplopia não se resolve após 6 meses do início dos sintomas. Saiba tudo sobre cirurgia de estrabismo neste post.

Dúvidas comuns dos pacientes:

É normal ver duplicado?

É normal quando temos a experiência da diplopia fisiológica. No entanto, a visão dupla persistente é um sintoma importante que deve ser avaliado sem demora.

Quem tem visão dupla pode dirigir?

Pacientes com diplopia devem se afastar de atividades nas quais a visão dupla possa os colocar em risco. Por isso, você não deve dirigir ou fazer qualquer outra coisa que possa machucar a si mesmo ou a outras pessoas enquanto sua visão estiver duplicada.

Quais medicamentos podem dar visão dupla?

Medicamentos que podem causar diplopia:

  • Muito comum: lacosamida, zonisamida (anticonvulsivante);
  • Comum: eslicarbazepina (anticonvulsivante), toxina botulínica, rufinamida (anticonvulsivante), pregabalina (ansiolítico), perampanel (anticonvulsivante), temozolamida (tumor cerebral), sildenafil (disfunção erétil), gabapentina (anticonvulsivante), topiramato (anticonvulsivante);
  • Incomum: levetiracetam (anticonvulsivante), anlodipino (hipotensor), lamotrigina (anticonvulsivante), adalimumabe (anti-TNF);
  • Raro: voriconazol (antifúngico), sertralina (antidepressivo), ciprofloxacino (antibiótico);

Como se corrige a diplopia?

A correção da diplopia depende da sua causa e do seu tipo. A diplopia binocular, aquela que desaparece quando você fecha o olho direito ou o esquerdo, pode ser corrigida com cirurgia de estrabismo, aplicação de toxina botulínica ou uso de prismas.

Qual nervo pode causar diplopia?

A paresia ou paralisia dos terceiro (oculomotor), quarto (troclear) ou sexto (abducente) nervos cranianos podem causar diplopia. Isto porque o olho parético fica desviado e leva à visão dupla.

 

  • O nervo oculomotor inerva o levantador da pálpebra superior, o reto medial, o reto superior, o reto inferior, o oblíquo inferior e o esfíncter da pupila;
  • O nervo abducente controla o reto lateral;
  • O nervo troclear inerva o oblíquo superior.

Que problema neurológico causa diplopia?

Inúmeros problemas neurológicos podem levar à diplopia. Desde doenças autoimunes, doenças neuromusculares, até neurodegenerativas. Veja alguns exemplos: Esclerose múltipla, Miastenia gravis, botulismo, neuropatia diabética, hemorragia, tumor, malformação vascular, aneurisma, meningite, hidrocefalia, sífilis, encefalopatia de Wernicke.

Como fortalecer os músculos dos olhos?

A melhor forma de fortalecer a musculatura ocular é com a cirurgia dos músculos oculares. As técnicas de fortalecimento incluem a resseção dos músculos, a plicatura ou tucking do músculo ou a transposição dos músculos. Elas podem ser feitas nos músculos retos ou oblíquos.

 

Outra forma menos utilizada é a injeção de bupivacaína no músculo enfraquecido.

Exercícios de convergência são indicados para casos selecionados de estrabismo, mas têm pouca aplicação nos estrabismos paréticos.

Como posso prevenir a visão dupla?

Não há nenhuma maneira de prevenir especificamente a visão dupla, mas cuidar bem dos seus olhos e consultar seu médico regularmente são as melhores maneiras de detectar problemas antes que eles causem a diplopia. Siga estas etapas para manter uma boa saúde ocular:

  • Não fume;
  • Mantenha alimentação adequada;
  • Pratique atividades físicas;
  • Regule o tempo que passa no celular e computador;
  • Use óculos de proteção adequados para todas as suas atividades de trabalho, esportes ou outras;
  • Faça visitas regulares ao clínico geral;
  • Agende um exame oftalmológico a cada um ou dois anos (ou sempre que seu médico recomendar).

Sinais de Alerta!!! Quando se preocupar?

Caso apresente algum dos sinais abaixo, procure um serviço de emergência:

  • Visão dupla súbita;
  • Dificuldade de mover um ou os dois olhos para alguma direção;
  • Dilatação de uma pupila;
  • Pálpebra caída (ptose palpebral).
Paciente com doença de Graves e retração palpebral à direita

Caso apresente algum destes sintomas, procure um serviço de oftalmologia:

  • Dor ocular;
  • Baixa visual;
  • Olho saltado;
  • Olho arregalado.

Paresia do terceiro nervo (abducente):

  • Ptose da pálpebra;
  • Olho desviado para fora e para baixo;
  • Pupila dilatada.

Paresia do quarto nervo (troclear):

  • Cabeça inclinada;
  • Olho desviado para cima, que piora ao olhar na direção do olho oposto;
  • Diplopia vertical que piora com inclinação no sentido oposto e ao olhar para baixo.

Paresia do sexto nervo (abducente):

  • Cabeça virada para o lado afetado;
  • Olho desviado em direção ao nariz;
  • Diplopia horizontal que piora ao olhar para o lado afetado.

Não deixe a diplopia prejudicar sua visão!

Fontes

Danchaivijitr C, Kennard C. Diplopia and eye movements disorders.

DOI: http://dx.doi.org/10.1136/jnnp.2004.053413Alves M, Miranda A.

Diplopia: a diagnostic challenge with common and rare etiologies. Am J Case Rep. 2015. Doi: 10.12659QAJCR.893134

O profissional que avalia a diplopia é o oftalmologista, com especialização em estrabismo. Uma avaliação com outros profissionais, como neurologista ou endocrinologista, ou até mesmo o encaminhamento para um serviço de emergência, podem ser recomendados.

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