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Escrito por Julia Rossetto
Tempo de Leitura: 5 minutos

Índice

Por que nós piscamos?

O piscar é um reflexo natural do corpo humano. As pessoas piscam cerca de 15-20 vezes por minuto, para proteger os olhos da secura e para distribuir a lágrima pela superfície do olho. A lágrima nutre, lubrifica e limpa a superfície dos olhos. Além disso, o piscar pode acontecer quando somos expostos a uma luz intensa ou quando objetos que se aproximam do nosso rosto, para proteger nossos olhos. 

Já os recém-nascidos piscam apenas 2 vezes por minuto. O piscar vai aumentando conforme a criança cresce até atingir a mesma frequência do adulto. O piscar pode também aumentar em resposta a dor, luz intensa, ou quando algo cai nos olhos.

Seu filho pisca muito?

Seu filho pisca sem parar e você está preocupado? Embora o piscar excessivo normalmente não seja preocupante, é importante consultar um oftalmologista pediátrico se isso acontecer. Raramente, piscar excessivamente pode ser sinal de um problema neurológico ou levar à perda da visão, porém pode ser por causa de um problema tratável, como a necessidade de óculos ou outras causas tratadas a seguir.

O que é um piscar excessivo?

É o piscar em alta frequência, mais do que 20 vezes por minuto ou em um padrão que não parece normal. Pode acontecer em um ou nos dois olhos. O piscar pode ter a intensidade de um piscar normal ou ser mais forte ou prolongado.

O que causa piscar excessivo em crianças?

O piscar em excesso pode ter várias causas. Ele pode ocorrer por conta de um problema na superfície do olho, nos cílios ou nas pálpebras. Pode estar relacionado ao aparecimento ou aumento do grau dos óculos, ou de um desvio dos olhos. Além disso, o piscar pode ser resultado estresse ou ser um tique temporário. Em raras situações, o piscar excessivo está relacionado a doença neurológica, nestes casos, ele vem acompanhado de outros sinais.

Veja abaixo os dados de um grande estudo com crianças menores de 16 anos mostrou as causas de piscar excessivo:

Tabela: Diagnóstico em 89 pacientes com piscar bilateral*

Diagnóstico Número de Pacientes
Tique habitual  21
Grau de óculos não corrigido 14
Conjuntivite       Alérgica       Outra 14       12        2
Psicogênico (ansiedade, estresse, etc) 10
Exotropia intermitente  10
Ceratite       Ceratite microbiana 6     1
Corpo estranho  3
Rosácea  1
Olhos secos  5
Doença do sistema nervoso central       Tumor de tronco cerebral        Tumor quiasmático        Encefalomielite disseminada aguda (ADEM) 

       Distúrbio convulsivo 

4       1       1       1

       1

Anormalidades da pálpebra       Blefarite        Triquíase 3       2       1
Síndrome de Tourette  1
Não classificada 2

Saiba um pouco mais sobre as principais causas:

TIQUES HABITUAIS:

Um tique habitual é um pequeno movimento corporal semivoluntário. Ele pode ser causado por estresse, fadiga ou tédio, entre muitas outras causas. Um tique comum é piscar, o que, geralmente, acontece nos dois olhos ao mesmo tempo, mais frequentemente em meninos e por volta dos 5 anos.

O tique é considerado habitual na ausência de outros sinais neurológicos. Neste caso, é uma condição benigna que se resolverá sem tratamento, geralmente dentro de semanas a anos. No entanto, muitas vezes o tique se repete de forma intermitente, antes de cessar por completo. Muitas vezes, ele é diagnosticado retrospectivamente, após o sintoma ter cessado, sem nenhum tratamento.  

Na presença de um piscar excessivo, é recomendada avaliação oftalmológica completa. Uma vez que um oftalmologista tenha determinado que uma criança não tem um problema ocular, é melhor que os pais não chamem a atenção ou discutam o piscar excessivo, pois os sintomas tendem a diminuir por conta própria. Os tiques habituais que persistem devem ser discutidos com o pediatra da criança, para procurar maneiras de controlar o estresse, a ansiedade ou outros possíveis gatilhos.

Na maioria dos casos, não há nenhuma causa neurológica envolvida no tique e uma avaliação mais aprofundada não é necessária. No entanto, se a criança apresentar outros sinais como tiques múltiplos e/ou tiques vocais, é recomendada uma consulta com um neurologista. 

GRAU DE ÓCULOS (ERROS REFRATIVOS)

Crianças que não enxergam bem, podem piscar repetidamente. Os erros refrativos não corrigidos, acontecem naquelas crianças que não sabem que precisam de óculos. Muitas vezes as crianças não sabem reconhecer a dificuldade, se adaptam a ela ou ainda não sabem como expressar o embaçamento visual. 

Nesses casos, é necessária uma consulta oftalmológica completa para a prescrição de óculos atualizada. A criança pode ter miopia, hipermetropia e/ou astigmatismo. Lembrando que óculos de crianças são feitos sempre depois de dilatar a pupila.

PROBLEMAS NA SUPERFÍCIE DOS OLHOS

Problemas na superfície do olhos, seja nas pálpebras, na conjuntiva ou na córnea (parte transparente que fica na frente do olho) são causas comuns de piscar repetitivo.

Estes problemas incluem olho seco (criança com olho seco pisca mais para reduzir o desconforto); cílios mal direcionados que tocam o globo ocular (triquíase), presença de um corpo estranho no olho ou sob a pálpebra, arranhões da conjuntiva ou córnea, alergias oculares, blefarite ou conjuntivite.

As alergias são muito comuns na infância, seus principais sinais são coceira recorrente e intensa, olhos inchados e vermelhos. Esse quadro pode estar associado ao piscar excessivo.

A blefarite é a inflamação das margens da pálpebra, seus principais sinais são olho vermelho, pálpebras com margens vermelhas e com crostas na base dos cílios

ESTRABISMO

Olhos desalinhados ou cruzados (estrabismo) são outra causa de piscar. Estrabismo é quando os olhos não estão alinhados corretamente e cada um aponta para direções diferentes.

Às vezes, nenhuma causa óbvia é encontrada para explicar o piscar excessivo, mas é importante ter uma avaliação cuidadosa de um oftalmologista pediátrico para afastar as possíveis causas.

Saiba também sobre as causas menos comuns:

GLAUCOMA CONGÊNITO

É uma condição rara. Os sintomas mais comuns do glaucoma congênito/infantil são lacrimejamento excessivo, sensibilidade à luz e uma córnea grande e opaca. Ou seja, a superfície do olho, normalmente transparente, fica opaca, azulada. A criança com glaucoma congênito pode também ter piscar repetitivo.

ESPASMOS MUSCULARES / MIOQUIMIA

Espasmos musculares levam a movimentos repetidos e podem ocorrer em outros musculos da face. É importante notar se o espasmo envolve metade do rosto (piscar de um dos olhos, acompanhado de contração dos músculos da face do mesmo lado), pois pode ser um espasmo hemifacial. O espasmo hemifacial pode ter causa neurológica e deve ser investigado.

OUTRAS CONDIÇÕES

O Transtorno Obsessivo Compulsivo ou TOC é uma condição comportamental que também pode estar associada ao olho piscando excessivamente, geralmente em crianças mais velhas. Na maioria das vezes, é acompanhado por outros tiques vocais ou motores.

A Síndrome de Tourette é uma condição que causa movimentos musculares repentinos e repetitivos descontrolados e sons conhecidos como tiques. Os tiques podem ser motores: são movimentos súbitos e aparentemente incontroláveis, como piscar de olhos exagerado, fazer caretas, sacudir a cabeça ou encolher os ombros ou vocais: incluem limpeza repetida da garganta, fungar ou cantarolar.

Como avaliar o olho piscando forte? Como diferenciar as possíveis causas?

Sempre que existe um piscar repetitivo, é recomendada uma avaliação completa com um oftalmologista pediátrico. No exame, o oftalmologista fará uma série de exames que excluirá todas as alterações comentadas até aqui. Veja a seguir:

Avaliação da nitidez da visão (medida da acuidade visual)

Avaliação das pálpebras e cílios e da superfície do olhos na lâmpada de fenda, que é uma espécie de microscópio (biomicroscopia anterior)

Avaliação da visão de profundidade, da movimentação dos olhos e alinhamento, para afastar que haja um estrabismo

Dilatação da pupila para:

Avaliação do grau dos olhos e verificar se serão necessários os óculos

Avaliação do fundo de olho para avaliar se não há nenhuma anormalidade dentro dos olhos

Se, após este exame completo, não for encontrada nenhuma causa e na ausência de outros sintomas, geralmente é recomendado apenas a observação do piscar. Porém, na presença de novos sintomas, consulte novamente seu oftalmologista para um exame de acompanhamento.

Como tratar o olho piscando com força?

O tratamento do piscar excessivo dependerá da causa subjacente. Veja abaixo alguns dos tratamentos possíveis:

    • Cílios tocando o olho (triquíase): se forem poucos cílios, eles podem ser removidos em consultório, caso contrário, pode ser necessário um procedimento no centro cirúrgico;
    • Olho seco: podem ser recomendados colírios lubrificantes (lágrimas artificiais);
    • Blefarite: é recomendada a limpeza dos cílios com shampoo neutro 2 vezes ao dia e colírios lubrificantes;
    • Lesão na córnea ou corpo estranho: retirada do corpo estranho no consultório (ou no centro cirúrgico, a depender da idade da criança e características do corpo estranho), colírio de antibiótico para prevenir infecção e pode ser necessário o uso de um tampão temporariamente;
  • Alergia: afastar o agente causador, compressas frias e colírios lubrificantes;
  • Grau de Óculos: prescrição dos óculos com o grau necessário pelo exame sob dilatação;
  • Estrabismo: podem ser necessários os óculos, uso de tampão e/ou cirurgia para corrigir a posição dos olhos;
  • Tique habitual: sem outros achados, geralmente não precisa de tratamento. No entanto, é recomendado reduzir possíveis desencadeadores como estresse, ansiedade, fadiga, tédio. 

Meu filho não pára de piscar. O que posso fazer?

Ótimo, falamos sobre tudo neste post. Mas se você já foi à consulta com um oftalmologista pediátrico, fez o exame completo e viu que não há nenhuma causa para o piscar repetido, o que você pode fazer ao voltar pra casa? Segue abaixo algumas dicas, não só para reduzir o piscar, mas para garantir a saúde dos olhos do seu filho:

  • Controle o tempo que seu filho passa nos dispositivos eletrônicos e evite períodos prolongados (faça pausas a cada meia hora)
  • Prefira dispositivos maiores e mais distante da criança
  • Melhore a umidificação do ambiente 
  • Proponha brincadeiras lúdicas e estimule habilidades motoras e intelectuais
  • Garanta uma boa rotina de sono
  • Garanta uma boa alimentação
  • Fique atento aos sinais de alarme: presença de outros tiques, presença de outros sinais como olho vermelho, estrabismo ou dificuldade visual.

Fontes: 

Academia America de Oftalmologia (AAO) 

Associação Americana de Oftalmologia Pediátrica e Estrabismo (AAPOS)

David K Coats; Evelyn A Paysse; Dong-Seob Kim (2001). Excessive blinking in childhood: a prospective evaluation of 99 children. Ophthalmology, 2001*

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