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Escrito por Luiz Roisman
Tempo de Leitura: 28 minutos

Cirurgia de Retina – A Vitrectomia

Índice

Vitrectomia via pars plana, ou simplesmente vitrectomia, é o nome que damos à cirurgia de retina mais comum. O nome se refere à retirada do vítreo, gel que preenche o olho por dentro (para saber mais sobre a anatomia do olho clique aqui).

A remoção deste gel é fundamental para o cirurgião ter acesso à retina propriamente dita, já que ela fica atrás do vítreo

A vitrectomia é utilizada para tratamento de diversas doenças do olho, sendo as mais comuns o descolamento de retina, a hemorragia vítrea, o buraco de mácula, a remoção de membrana epirretiniana e a retinopatia diabética.

Como é feita a vitrectomia?

A vitrectomia se inicia com a colocação dos trocateres no olho, que o cirurgião utilizará para enxergar e fazer as manobras necessárias. Os trocateres sao furinhos por onde os instrumentos irão penetrar no olho, parecido com uma videolaparoscopia de abdome.

Normalmente são feitos 3 ou 4 furinhos na esclera (parte branca do olho), chamados de esclerotomias (Figuras 1 e 2).

  • No primeiro furinho coloca-se uma cânula por onde entra um soro especial, chamado de BSS (solução salina balanceada), que vai preencher o olho durante a cirurgia. É a cânula de infusão.
  • Na segunda esclerotomia, entra uma sonda de iluminação, com uma fibra óptica na ponta de onde sai um foco de luz para ser possível enxergar dentro do olho.
  • Na terceira esclerotomia, entram vários tipos de instrumentos que o cirurgião poderá utilizar, tais como o vitreófago (instrumento que aspira o gel vítreo de forma segura), micropinças, laser, cautério, microtesoura, etc, dependendo da cirurgia.
  • Algumas vezes fazemos um quarto furinho por onde vai uma outra sonda de iluminação. Desta forma, não precisamos segurar a iluminação com uma das mãos ficando livre para o uso de 2 instrumentos simultaneamente.
Figura 1: imagem ilustrativa do posicionamento das esclerotomias e dos instrumentos dentro do olho durante uma vitrectomia.
Figura 2: imagem do olho durante a cirurgia, mostrando o posicionamento das esclerotomias e instrumentos.

Muitas vezes me perguntam se é perigoso fazer vitrectomia. O olho é um órgão pequeno, com cerca de 6,5 ml de volume e 2,5 cm de diâmetro. Logo, qualquer movimentação dentro do olho deve ser muito cuidadosa e exige grande perícia do cirurgião, mas a cirurgia é considerada muito segura desde que realizadas nas condições adequadas.

Vitrectomia com implante de gás ou óleo de silicone? Como se enxerga após a cirurgia de vitrectomia?

Como dito anteriormente, na vitrectomia todo o gel vítreo é removido e algo deve ser colocado no lugar, são os chamados substitutos vítreos.

O vítreo tem função embriológica, ou seja, participa da formação do olho durante a gravidez, mas no adulto tem apenas função de preenchimento e sua remoção não causa nenhum prejuízo à visão ou ao olho.

Podemos substituir o vítreo com ar, com o soro BSS, com um tipo de gás e com um material chamado óleo de silicone. A decisão depende muito do tipo e da complexidade da cirurgia.

De forma geral, o ar ou o soro são usados em cirurgias menos complexas e/ou nos casos que não envolvam descolamento de retina.

Diferentemente do ar e do soro, o gás tem função de “empurrar” a retina para o lugar, mantendo-a colada, ou deixar uma área da retina “seca”, sem contato com líquidos intraoculares.

Por isso, o gás normalmente é usado nos descolamentos de retina e no buraco de mácula. Dois tipos de gases são usados, o C3F8 e o SF6. Como qualquer gás, ele pode expandir com a diminuição da pressão atmosférica (aumento de altitude, por exemplo) ou contrair com o aumento da pressão atmosférica (redução de altitude).

Por isso, quando usamos gás dentro do olho é fundamental instruir que o paciente deve ficar na altitude em que foi realizada a cirurgia. De forma geral, pedimos que não haja variação de mais de 700 metros do local da cirurgia.

Logo, viagens de avião são proibitivas e podem levar à cegueira completa pelo aumento da pressão ocular causado pela expansão do gás. Lentamente, o gás implantado vai sendo absorvido e substituído por um líquido que é produzido dentro do olho, o humor aquoso.

Este processo normalmente leva entre 1 e 2 meses, e as recomendações de controle da altitude devem ser respeitadas até a absorção completa do gás. Por outro lado, apesar de levar este tempo para a absorção completa, o processo de substituição do gás pelo humor aquoso se inicia assim que termina a cirurgia.

Deste modo, é fundamental fazer uma posição de cabeça após a cirurgia, o chamado face-down, ou a face direcionada para o chão. A posição de face-down é a maneira que temos de direcionar o gás para atuar com mais precisão na área de interesse da retina (Figuras 3 e 4). Usualmente, pedimos que a posição seja feita por 7 a 14 dias, dependendo da cirurgia.

Figura 3: a posição tipo “face-down” feita de forma correta, direcionando a bolha de gás para a parte posterior da retina no fundo do olho, conforme a ilustração à direita.
Figura 4: Retinografia ilustrando a bolha de gás dentro do olho. À esquerda, vemos múltiplas bolhas, formação chamada de “ovas de peixe”, pois se formam várias bolhinhas. À direita, o gás preenchendo praticamente metade da cavidade intraocular.

Como o gás, o óleo de silicone também serve para ocupar o espaço intraocular,  “empurrando” a retina para o lugar. Como não é absorvível, enquanto estiver dentro do olho vai exercer esta função.

Já o gás perde rapidamente a capacidade de preencher todo o olho, visto que se inicia sua absorção logo no fim da cirurgia. Mas se o óleo de silicone é “melhor” para “empurrar” a retina para o lugar, por que não usamos sempre esta substância ao invés do gás? Por vários motivos!

Como não é absorvível, uma nova cirurgia deve ser feita para retirar o óleo de silicone. Este procedimento normalmente é feito 6 semanas a 6 meses apos a primeira cirurgia. Em situações especiais, o óleo de silicone pode ser deixado por mais tempo.

Além disso, o óleo pode causar aumento da pressão ocular, inflamação ocular e, mais raramente, toxicidade ocular. Por isso, usamos o óleo de silicone nas cirurgias mais complexas, quando queremos esta pressão sobre a retina por mais tempo e/ou de forma mais constante.

Quanto tempo dura uma vitrectomia?

Depende muito da complexidade de cada caso, mas de forma geral a duração da cirurgia varia entre 30 e 90 minutos.

A vitrectomia é feita com anestesia geral?

Via de regra a vitrectomia é feita com uma anestesia atrás do olho (bloqueio retrobulbar) que impede que o paciente sinta dor e movimente o olho durante a cirurgia. Realizamos também uma sedação venosa leve, deixando o paciente confortável e sonolento durante o procedimento.

Crianças, casos mais demorados, ou pacientes com fobia de ficar com um pano (campo cirúrgico) sobre o rosto podem fazer a cirurgia sob anestesia geral.

É possível fazer a cirurgia de catarata junto da vitrectomia?

Não só é possível, como normalmente é indicada! É a chamada cirurgia combinada. Como é possível observar na Figura 1, toda a manipulação intraocular é feita muito próximo ao cristalino.

A inflamação gerada desta proximidade geralmente causa catarata precoce, alguns meses após a vitrectomia. Além disso, a presença do cristalino impede que o gel vítreo da parte anterior do olho seja alcançado, o que pode ser prejudicial em alguns casos.

Por outro lado, podemos optar por tentar preservar um cristalino saudável em pacientes jovens, ainda que exista o risco de formação de catarata.

Como se enxerga após a cirurgia de vitrectomia?

O melhor cenário, considerando a visão no pós operatório, sem dúvida é substituir o vítreo com o soro BSS. Neste caso, a visão tende a recuperar de forma muito rápida, em menos de 1 semana.

Já no implante de ar ou gás, a visão fica muito embaçada no pós operatório imediato. A visão costuma clarear de cima para baixo em alguns dias na presença de ar e em algumas semanas na presença de gás (Figura 5).

Já com óleo de silicone, a visão tende a ficar pior que o soro, mas melhor que o gás. O óleo de silicone muda o grau do olho, podendo somar em torno de 6 graus de hipermetropia!

Figura 5: visão com gás dentro do olho. Com a absorção do gás, a visão vai clareando de cima para baixo, até que fique uma pequena bolhinha na parte inferior da visão que desaparece complemente em alguns dias.

A vitrectomia dói? Se sente dor após a cirurgia de retina?

De modo geral a vitrectomia não dói, nem durante a cirurgia, sob efeito da anestesia, nem no pós operatório, sendo uma cirurgia bem confortável.

Em algumas situações como a introflexão escleral (para saber mais sobre cirurgia de descolamento de retina, clique aqui) pode haver um pouco mais de desconforto passageiro. Às vezes há sensação de areia pela presença de suturas (pontos) no olho. Normalmente os pontos caem sozinhos em algumas semanas.

Quais cuidados devo ter após a cirurgia?

Além da atenção ao posicionamento da cabeça (face down) quando houver indicação médica, cuidados gerais como não comprimir o olho (não coçar), manter o olho limpo de secreções, evitar atividades domésticas como limpeza, mergulhos em mar ou piscina e atividades físicas por 2 semanas são recomendações básicas de quaisquer cirurgia de retina.

É permitido assistir televisão, usar o computador ou o celular após a vitrectomia, mantendo a atenção ao posicionamento de cabeça quando houver indicação.

Quanto tempo do dia devo fazer a posição de cabeça quando estou com o gás? O que acontece se eu não a fizer?

Como dito anteriormente, a posição de cabeça em face down normalmente é importante por 7 a 15 dias. Este é o tempo que esperamos que o buraco de mácula se feche e o laser feito durante a cirurgia cicatrize corretamente nos casos de descolamento de retina.

A falha no posicionamento correto da cabeça no pós operatório pode sim comprometer o resultado da cirurgia. Por ser absorvível, o gás demanda maior adesão ao posicionamento que o óleo de silicone.

Quando posso voltar a fazer atividade física após a cirurgia de retina?

Na maioria dos casos as atividades físicas e laborativas podem ser retomadas 2 semanas após a vitrectomia.

Há como melhorar a visão enquanto estou com gás ou óleo de silicone no olho?

Enquanto estiver com o gás não há como melhorar a visão, devemos mesmo esperar sua absorção completa, o que leva em torno de 2 meses.

Já em olhos com óleo de silicone é possível sim melhorar a visão com a mudança do grau dos óculos, já que o óleo gera hipermetropia de algo em torno de 6 graus!

Porém, isto só tem sentido caso o óleo de silicone vá permanecer por período prolongado dentro do olho, por exemplo mais de 6 meses. Como normalmente o óleo é retirado antes deste tempo não costumamos prescrever óculos.

Eu posso mergulhar após a cirurgia de retina?

Não é recomendado ir à praia, mar ou piscina os primeiros 15 dias após a vitrectomia. Após este período estas atividades estão liberadas, exceto nos casos de mergulhos de profundidade com o olho preenchido por gás.

Eu posso viajar após a vitrectomia?

Caso o olho esteja com ar ou gás não é permitido ter variação de altitude. Normalmente recomendamos o limite de 700 metros de variação de altitude em relação ao local da cirurgia. Logo, viagens de avião nem pensar!

O ar absorve por completo em alguns dias e o gás em 6 a 8 semanas. Após este período não há qualquer restrição a viagens. Quando não houver uso de ar ou gás, mas sim soro ou óleo de silicone, não há restrição à variação de altitude ou viagens de avião.

Por outro lado, fatores como tempo de viagem, trepidação do carro ou meio de transporte (trem, carro, ônibus) NÃO representam qualquer impedimento após vitrectomia.

O olho é retirado para fazer a vitrectomia?

Esta é uma pergunta até engraçada, mas muito comum. Não, o olho fica no lugarzinho dele durante toda a cirurgia. Nenhuma cirurgia oftalmológica envolve a retirada do olho para o procedimento com posterior “devolução” do globo ocular para seu lugar.

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